sábado, agosto 13, 2005

House of Shiva, Lord of Destruction

Existem três deuses hindus principais, Bhrama, deus da criação, Vishnu, deus da manutenção e Shiva, deus da destruição. Varanasi é uma cidade sagrada para os Hindus por ser a morada de Shiva. As pessoas são chamadas aqui no final da vida para que a passagem seja mais suave, para que a morte seja sem sofrimento. É-lhes pedida uma aproximação espiritual através da ritualzação e da enculturação: é um lugar de silêncio e de oração, onde as gerações se cruzam. As águas do Ganges diminuem o peso das reencarnações sucessivas e por isso, o rio acorda para receber os elementos mais velhos das famílias nos seus banhos matinais, os homens de fé, as lavadeiras de roupa, os cadáveres cremados na noite anterior, as crianças que iniciam a invocação dos mantras... Quando alguém morre, é envolto em panos e coberto de flores, e o seu corpo é depositado sobre um monte de troncos de madeira. O fogo não pode ser ateado com fósforos, gasolina ou outro material inflamável: o filho mais velho daquela família deve ir buscá-lo ao templo de Shiva, algures na velha cidadela. Cada corpo demora cerca de 3 horas a cremar, à excepção de crianças, grávidas, sadhus, morte por varicela ou mordedura de cobra. Curiosamente estes corpos não ardem, não se degradam pelas chamas, mesmo quando queimados durante dias: de acordo com os locais, são corpos demasiado quentes (com muito calor interno), mais quentes que o fogo, e por isso são oferecidos directamente ao rio. Ao fim de 3 horas o corpo está praticamente irreconhecível, desmembrado, reduzido a ossos. Nessa altura é trazido um pote de barro com água do Ganges e é derramado sobre a pira, para que seja facilitada a libertação da alma e o atingimento do Nirvana. O pote permanece junto à pira até esta estar completamente fria, altura em que o pote é quebrado sobre o que resta: para a família, é tempo de parar o luto, é a forma e dizer que aquele familiar já não existe e que podem continuar com as suas vidas. Este ritual repete-se vezes sem conta, nos dois Ghats de cremação da cidade. Dia e noite, é imparável, assim como o avanço do tempo. As fotografias não são permitidas, mas o fumo constante ou os clarões ao entardecer espelhados no rio afirmam a sua presença, como que tornando real para todos esta realidade, agora ou depois. É a Varanasi que as pessoas vêem morrer. Há quanto tempo estarão aqui à espera?

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